Espaços Virtuais: Cantos

Cildo Meireles, 1967

Espaços Virtuais: Cantos

 

A partir de 1967, Cildo Meireles começa a desenvolver a série de desenhos/projetos – “Espaços Virtuais: Cantos”, onde toma como ponto de partida a Geometria Euclidiana, evidenciando a sua ineficiência para definir o espaço.

A Geometria Euclidiana ao longo da História da Arte Ocidental, vem sendo usada como definidora da relação espacial com o espectador, usando seus elementos para representar a experiência do mundo real. Quando Meireles nomina como: “Espaços Virtuais” sua série de trabalhos, o espaço “real” é questionado ainda que utilizando as ferramentas da Geometria Euclidiana. Nesta série ele cria espaços relativos, onde a dúvida é elemento vital, incorporando a participação e o movimento do espectador para a fruição da obra. 

Podemos situar M.C. Escher como um pioneiro no questionamento da Geometria Euclidiana, porém com seus “Espaços Virtuais”, Meireles já sinaliza uma clara pretensão escultórica, alargando esse questionamento.

Ao longo de sua carreira, Cildo Meireles revisitará constantemente essa série, desdobrando-a em maquetes, esculturas, gravuras ou instalações. Mais do que atender uma demanda expositiva, o artista apresenta os seus “Cantos” em diferentes suportes, como forma de evidenciar o trânsito entre as categorias espaciais. Desenhos remetem à arquitetura, esculturas remetem ao espaço bidimensional, enxertos em livros de artistas se tornam esculturas ou desenhos etc.

Os “Cantos” de grande dimensão, são construídos com telas de pintura e tacos de madeira (pisos domésticos), simulacros do espaço arquitetónico. Porém quando as paredes desse espaço são feitas com o suporte para pintura, espaço tradicionalmente usado como palco do tipo de Geometria Euclidiana que a própria obra nega, passa a existir uma dupla negação dentro do jogo semântico proposto. Ao espectador é apresentado um espaço físico real, porém impossível dentro da representação que nós somos tradicionalmente confrontados na Geometria Euclidiana.

Esse recurso do embaralhamento de categorias, médias ou certezas, estará presente ao longo de quase toda a trajetória do artista onde elementos aparentemente opostos se unem para, ao invés de negarem seu conceito por oposição, criam uma nova experiência, onde o tempo e a relatividade se transformam constantemente, exatamente por não negar a natureza inicial de cada elemento.

 

Felipe Barbosa