Objeto em (des)construção

Edna Moura, 2019

1 cadeira Thonet, N. 14 – desmontada e tecidos em dimensões variadas. 2019

 

 

Para a criação da instalação N. 14 – Objeto em (des)construção”, apresentada na exposição coletiva “A dança das cadeiras”[1], parti da seguinte indagação: dentre as muitas cadeiras conhecidas, qual delas escolherei para dar corpo ao meu trabalho?

 

Inevitavelmente, a instalação “Uma e Três Cadeiras”[2], de Joseph Kosut, elaborada em 1965 e exposta em 1970, me veio à mente, com toda sua carga inaugural, de caráter artístico plurilinguístico e conceitual (Fig.1). A presença do hand-made, neste caso, a “cadeira industrial”, remeteu-me a Marcel Duchamp e a Michel Thonet. Este último, um construtor de móveis alemão, que em meados do século XIX inovou a indústria de mobiliário, ao desenvolver técnicas de arquear madeira através do vapor e produzir peças de mobiliário funcionais em série com alto teor estético. Em 1859, Thonet, criou a cadeira “N. 14” (Fig.2), também conhecida como “214”, ou “cadeira bistrô”.

 

Esta cadeira atingiu em 1930 a marca de 50 milhões de unidades vendidas. Transportadas em caixas de madeira de um metro quadrado, totalmente desmontadas e enumeradas de 1 a 36, separadas em 6 partes de madeira e 6 parafusos, essas cadeiras eram enviadas e montadas em seu próprio destino. A “N.14”, foi a primeira cadeira construída em série a atravessar mares e continentes.

 

Assim como a “N.14”, atravessei o Atlântico, experienciei a transformação da matéria, transmutei, expandi. Metaforicamente, apropriei-me desta “cadeira” como objeto de inspiração. Articulei e cruzei referências (urdidura) às minhas (tramas). Como uma tessitura, criei minha instalação. Talvez mais do que apropriação, a instalação “Nº. 14 – Objeto em (des)construção”, trata-se também de um ato antropográfico:  

 

Desejo. Deslocamento, “navegar é preciso”. Água, Fogo, Terra, Ar, Madeira. Corpo que se expande: liquido, gasoso, solido. Matéria, memória. Amor, dor, transmutação. Fenix, Gaia. Contração, dilatação, expansão. Carne, espírito, alma. Fusão, integr(A)ção, unidade, multiplicidade: ser, estar, aqui e agora. Em (re)construção.

 

 

Edna Moura, Maio de 2020

 

 

[1] Exposição coletiva que reuniu 52 artistas versando sobre o objeto “cadeira”. Inaugurada em 29 de agosto, no Ponteio Lar Shopping, a mostra teve uma de suas “cadeiras” censurada pela própria direção do estabelecimento. Tal fato gerou a dissidência de parte do grupo de artistas, que em sinal de protesto e solidariedade à obra censurada de Breno Barbosa, retiraram suas obras. Organizamos uma nova exposição a convite de Ronaldo Fraga, no Grande Hotel, que recebeu o nome de “Artigo 5º – Uma Ode à Liberdade de Expressão”. Esta mostra ocorreu de 3 a 17 de outubro de 2019 em Belo Horizonte-Brasil.