La Certosa

Victor Marqué, 2020

La Certosa, Victor Marqué, acrílico sobre tela, 240 x 130 cm, 2020

 

 

“La Certosa” é uma grande pintura criada por Victor Marqué, exibida pela primeira vez como parte da exposição “Aurore” no Museu de Vendôme (fevereiro de 2020, França).

No âmbito da apresentação de um projeto arquitectónico, uma das coisas que o autor deveria ponderar com maior atenção, é a seleção das informações consideradas fundamentais e colocá-las em posição central.

Para facilitar a compreensão do interlocutor, deverá haver pontos de referência espacial, como um chão, um céu e os lados.

O Victor Marqué formou-se em arquitectura em Versailles, portanto foi educado de acordo com os cânones arquitectónicos e perspectiva tipicamente europeus. Porém, desde o início da sua carreira artística, tem demonstrado uma forte tendência para reformular as regras.

Num contraste à sua formação académica, a invenção da perspectiva nasce das formas que ele sente.

Implicações psicológicas e mnemónicas digerem a geometria e as estruturas surgem da adição das formas. Nesta tela, a perspectiva não obedece ao caminho da ciência.

Percebe-se uma certa busca pela estabilidade: os grandes blocos de pedra são cuidadosamente empilhados, não podem cair e, se caem, significa que foi cometido um erro.

O erro, quando for cometido, pode levar ao nascimento de novas variantes técnicas e estilísticas inesperadas, mas não é permitido conceitualmente durante a construção do edifício.

É criado algo que deve durar ao longo do tempo, exactamente como o Duomo de Siena (por volta de 1220), que ainda continua imponentemente a resistir.

Trata-se de uma tela, um meio que poderíamos definir como tradicional, que se opõe à intangibilidade e à instabilidade, do ponto de vista material e visual.

Apesar dos jogos de perspectiva irracionais, o edifício assume uma aparência maciça e não há espaço para hesitação ou incerteza.

É um processo empírico que leva a um mundo próprio, isolado do resto.

Não sabemos nada sobre o que está escondido lá dentro, como quando estamos em frente à entrada da Catedral de Siena.

Implicitamente, o artista sugere ao observador percorrer os corredores interiores com sua imaginação.

A relação entre exterior e interior, íntimo e público, torna-se mais dinâmica quando

de repente, um mecanismo dá o clique e os pontos de vista são trocados.

O plano de fundo da pintura é exatamente o que está realmente escondido dentro da Catedral: o complexo piso de marchetarias de mármore manifesta-se abertamente atrás dos contornos do edifício imponente.

A pátina do tempo, a textura das pedras, a fragilidade persistente da pedra sujeita ao tempo tornam-se elementos que podem ser representados porque o pó de mármore é misturado com o pigmento na tinta acrílica usada.

Os processos de erosão são lentos, as incisões são consumidas até desaparecerem, por completo, mas estas ainda permanecem visíveis e, portanto, persistem.

 

Serena Barbieri