A PLACE FOR LOVE

André Guedes, 2002

A Place for Love consiste num recinto vazio com a escala de uma usual sala-de-estar, incluindo uma porta a meio de uma das paredes e um vaso com plantas. Dado que somente a porta e três jovens adultos  e a planta interrompem a sobriedade imaculada da sala, o primeiro impulso do visitante é abrir a porta. Perante a constatação da impossibilidade de a abrir, o visitante recai sobre si mesmo e, pouco depois, sobre as presenças humanas que ali continuam, silentes e – quase – imóveis. Se a ausência de objectos amplia o recinto, assim que se constitui como cubículo bloqueado adquire uma compressão súbita, cujo paroxismo é atingido quando o visitante se depara com personagens que, tudo o indica, são parte integrante do espaço. Enquanto a impassibilidade das presenças humanas ecoa o vazio do espaço, a sua condição de objectos de desejo constitui o prolongamento de um habitáculo repentinamente erigido como beco sem saída.
Situados como corpos que devido à sua pluralidade passam à categoria de figuras, os jovens confrontam num mutismo e indiferença irredutíveis um visitante ocasional que, por inerência, se (auto-)institui como espectador expectaste e assim permanece ad eternum: na casa do amor, ou melhor, no place for love o encontro de presenças é – como o termo space indica – fortuito e, neste não-lugar, o love efectiva-se apenas e sempre por projecções. Exactamente como em Hollywood, o amor decorre na colocação de qualquer espectador no centro nevrálgico de um enlevo, mas agora a ser desmantelado pelo confronto directo com corpos que atrasam as suas pulsões ao surgirem meramente como presenças que, ao apresentarem-se, falham a – tão – esperada representação. A construção dos corpos como figuras demarca desse modo uma distância indelével perante o espectador; distância fundadora de uma teatralidade que declara ser o love um simples jogo de forças. Conforme o espaço – vazio – vai sendo perscrutado como cenário (produzido por um espectador que o concebe como interior absoluto), vai o mundo diluindo os seus contornos e acabando por aparecer como Outro, como desmultiplicação de figuras definitivamente inalcançáveis.

 

Fernando Ribeiro