uma praia…

Sofia Barreira, 2000

Na possibilidade de perceber os processos artísticos contemporâneos, principalmente aqueles que provocam inquietações apontadas pelo conceito de paisagem, o trabalho ‘uma praia…’ ’da artista portuguesa Sofia Barreira encontra uma forma de tratar a paisagem, de maneira que lhe confere uma forte dimensão afetiva.
As reticências do título despertam uma empatia imediata, possivelmente por abrir caminho para o campo das memórias, das imagens familiares, íntimas e que simbolizam um apego muitas vezes difícil de separar de seus efeitos visuais.
Em seu site pessoal, a artista mostra algumas imagens desta obra e descreve um pouco sobre o que ela significa para si. Sofia diz que a obra “consiste numa panorâmica com imagens sequenciais da praia de Valadares, a cores (2000), referindo-se a um presente, e num primeiro plano, imagens transparentes, a preto e branco (1979-83), que se reportam a um passado”.

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Fotografia retirada do site da artista. Na imagem, Sofia e seus irmãos na praia.

Para Sofia, essa praia faz parte do seu passado, de sua infância com os irmãos, de uma infância guardada e perdida em recordações fotográficas. Para a artista suas memórias “ficam guardadas numa gaveta: sons, imagens, cheiros, saltos, brincadeiras, risos, cresceres…”.
E esta memória que compartilha através da obra parece não mais sobreviver da mesma maneira. Sofia diz que agora, adulta, quando regressa àquela paisagem o que parece acontecer é um retorno ao passado através de uma sucessão de imagens. Esta obra aponta de uma maneira bastante delicada e discreta a ideia de paisagem associada a uma afetividade relembrada pela memória. Porém não menos interessante é o associar e sobrepor de imagens que remetem para a ideia de tempo e para as recordações guardadas ali.
A afetividade que transparece na obra é apresentada de maneira muito sutil e delicada. A artista compartilha suas memórias e suas próprias sensações e, assim, uma infinidade de emoções, de afetividades e de delicadezas são sugeridas.

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Vista da Instalação no Museu da FBAUP, Porto, 2000. Peça apresentada também na Mostra Nacional de Jovens Criadores 2000, Mercado Ferreira Borges, Porto, 2001. Estrutura em MDF, platex e pinho com fotografias e acetatos. Dimensões máximas da estrutura: 300 cm x 245 cm x  225 cm.

 

Gabriela Caetano

 https://sofiabarreira.wordpress.com/uma-praia/