MODELO OROGRÁFICO DO TERRITÓRIO PORTUGUÊS À ESCALA 1/625000, SUJEITO ÀS CONDIÇÕES LUMINOSAS DO DIA 25 DE ABRIL DE 1974, ÀS 8H00

FERNANDO BRITO, 1999

Modelo Orográfico do Território Português à Escala 1/625000,  Sujeito às Condições Luminosas do Dia 25 de Abril de 1974, às 8h00, 1999-2009, consiste num mapa tridimensional do território nacional que, devido ao seu material, látex, e devido à sua escala, assume uma visibilidade ínfima numa sala de exposições de dimensões médias.  Se o momento da aurora – em que a natureza fornece luz à Revolução –  constitui uma promessa de liberdade, trata-se de uma apoteose eternamente adiada; ficando assim e sempre no campo da utopia. Passando ao estatuto de ilha, “orgulhosamente só”, a escala do território português sofre uma contracção extrema, pelo que confere ao sombrio espaço expositivo uma latente infinidade.

Enquanto as escalas vão sendo invertidas, a memória fixa-as no seu referencial físico, sendo por este push and pull que se sustenta uma irredutível viscosidade espacial. Viscosidade materializada na minúscula e frágil epiderme geográfica que, aos pés do espectador, se apresenta enquanto dobra do imenso chão que pisamos. Paradoxalmente, o continuum estabelecido entre o espaço ocupado pelo território e pelo espectador legitima-o como sujeito soberano e, em simultâneo, remete-o à estrita invisibilidade, enquanto cidadão nacional. A ínfima membrana de látex e a luz rapante do holofote que perturba o silêncio tumular do obscurantismo histórico, introduzem uma viscosidade própria da ruína: o espaço-tempo é anunciado, mas apenas e (para) sempre no limite do visível e do invisível, da Luz e da vacuidade da sua ausência: Portugal existe a partir desse exacto ponto cronológico; Portugal só existe nesse instante; Portugal não existe a não ser às 8h00 do dia 25 de Abril de 1974.

Fernando Ribeiro