unless the room is empty

MIGUEL ÂNGELO ROCHA, 2008

Em «Unless the Room Is Empty», de Miguel Ângelo Rocha, uma mesa redonda cujo tampo parece ter sido retirado para se deixar, assim, esta mesa como se fosse um desenho. No lugar do tampo uma circunferência e não um círculo. Fica, desta forma, mais diluída qualquer descontinuidade entre esta mesa e a materialidade das linhas que o escultor lhe acrescenta e faz crescer a partir das suas pernas. Estas linhas materiais, de madeira como a mesa, mas assumindo a abstracção da cor branca, prolongam as pernas desta mesa mas, mais do que a fazerem subir em altura, descolam-na do chão e elevam-se num desenho complexo como será complexo um desenho sem desenho, um desenho que vai riscando o espaço, não em completa arbitrariedade, mas em campos de múltiplas variáveis.
E crescem, assim, parecendo ser sugadas por um buraco na parede, atracção que afecta certamente o seu desenho, mas que, ao mesmo tempo, compete com o espaço desta sala, na sua potencialidade de poder ser preenchido.
Crescendo para aquele buraco, aquelas linhas parecem manifestar a vocação daquela mesa poder ter outra condição, pertencer a outro lugar.
Mas, se considerarmos que aquelas linhas irrompem por aquela abertura, não saindo, mas entrando, poderemos imaginar então que terá sido aquela mesa que foi produzida por aquelas linhas que entraram naquela sala e aí encontraram uma combinação de factores que lhes deu aquela conformação. Poderá ter sido a sala que lhes disse para serem mesa, àquelas linhas que terão entrado de rompante, matéria informe, plasticidade pura.
Aquele buraco na parece, abertura como demolição pontual da parede, como destruição da fronteira entre um espaço e outro, parece ser o principal agente, a principal causa.
Aqui, sobretudo, estamos perante a visualização das consequências da diluição da fronteira entre espaços. Mas espaços que só se manifestam assim se não estiverem vazios, “a não ser que estejam vazios…E aquela mesa é uma presença que humaniza aquela sala e, nessa condição, manifesta o que será a própria condição humana, estar ali mas também noutro lugar, de não estar só ali.
E, sendo aquela sala pertença de um pavilhão do Júlio de Matos, um hospital psiquiátrico, a ideia de que a realidade são várias ou de que a realidade tem várias camadas ganha outra expressão, não só no sublinhar das especificidades desta realidade, mas talvez, sobretudo, naquilo que as situações limite terão de simbólico em relação a toda a condição humana.

António Olaio